Boanerges
Cezário*
Há algum
tempo diversos servidores de um órgão do Poder Judiciário manifestaram numa
discussão por e-mail insatisfação sobre a oferta de vagas no estacionamento
daquele órgão.
Todas
as manifestações eram pertinentes.
Uma,
por exemplo, salientava que o órgão dispunha de um estacionamento amplo para
estacionar os carros à sombra.
Outras, asseverava que tudo era reflexo do tratamento dado aos servidores do referido órgão,
reclamando ainda sobre a necessidade de aumento do reembolso e ampliação de alguns tratamentos médicos.
A mais “politicamente correta” dizia que “O sistema utilizado naquele estacionamento se assemelhava
a criar cotas no estacionamento de uma universidade pública e esquecer a dos professores,
profissionais que movem a máquina, cuja ausência tornaria inócua a presença de
outros profissionais externos à instituição”.
Na verdade, todas as opiniões são pertinentes, mas há um problema maior em torno
dessa falta de tudo: o sucateamento do Poder Judiciário, do qual todos são vitimas, eu disse TODOS.
As diretrizes governamentais apontam para isso com corte de custos, mas por enquanto
corte de custos só com trabalhadores.
No passado, foram feitos planos de carreira para atrair os melhores para dentro
do serviço público, objetivando a melhoria no atendimento e qualidade do serviço prestado.
Com tais planos, os servidores que aderiram a tais projetos, fazendo concurso e se
dedicando à carreira, mudaram o curso de suas vidas, abdicaram de outras funções
e agora depois de tudo são agraciados com tais benesses, ou seja, abandono puro.
Seja ele material, humano, salarial...
O problema agora é que começam a aparecer os sinais de abandono com as
carreiras estagnadas, ocasionando o pior para o serviço, ou seja, o crescente
êxodo dos novatos para outros órgãos.
Em face do custo de vida por aqui ser menor, por enquanto só se presta atenção
a micro problemas como “vagas de estacionamento”, “equipamentos de trabalho obsoletos”, dentre outros.
Agora, pergunte a um colega que mora em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro,
ou noutros grandes centros, por exemplo, o que está fazendo mais falta a ele.
Estacionamento nem se fala, pois ali não existe mesmo, devido às dificuldades no espaço
daquelas cidades. O que eles tão sentindo mesmo é falta de incentivo salarial, falta de
apoio às iniciativas de qualidade, desmotivação da equipe.
Além do mais, com a política salarial distorcida, mas muito bem “pensada” em Brasília,
faz com que os novatos e bons não encontrem motivação para ficar no serviço.
Aí sim, estamos nos transformando em “escolinha de treinamento” para o mercado de trabalho .
Além do mais, agora, até os que galgaram funções melhores (incluindo as de gestão) estão
vendo também que o futuro não é tão promissor às suas necessidades.
Perderemos quadros importantes para outros órgãos, como já estamos perdendo,
com a tendência salarial em baixa.
Já auxiliei também no treinamento, colaborando na instalação de varas em subseções
e vejo como temos outro problema surgindo: o nível de qualidade de alguns novatos
tem deixado a desejar. Pergunto: isso é reflexo de que? Alguém adivinha?
Quanto às reclamações, como já disse, são pertinentes, mas é bom lembrar que há
um problema maior por trás de tudo, há defasagem salarial e se reclamarmos sobre
os pequenos problemas, não resolveremos o “todo”.
E assim, como no MITO DA CAVERNA de Platão, seremos sempre prisioneiros,
permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo.
Sem querer provocar, mas já provocando, pergunto:
01 que tal a gente pensar nos colegas do sudeste (maioria dos servidores e que
nunca terão estacionamento) que não conseguem viver em equilíbrio financeiro com seus salários ali?
02 acho que toda essa situação de abandono ao servidor é alimentada por todos nós
de uma forma ou de outra, pois resolvemos não mexer na nossa zona de conforto e implicamos
com problemas do tipo “vagas no estacionamento”, “restaurante fechado”, enquanto todas as
estatísticas vão bem, significando que todo mundo está satisfeito com tudo, inclusive salário,
fazendo “a prestação jurisdicional” estar sempre em dia e o salário... “ó”
Um amigo meu, que se chama Zé Bidu, acompanhou os e-mails e disse: “Rapaz,
acho que todo mundo deveria sair do mundo das opiniões e caminhar para
o mundo das ideias . E nesses e-mails não vi nenhuma rsrsrs
Mas ele, Zé Bidu, pensa o seguinte: .
Os servidores precisam, por intermédio de seus órgãos representativos, fomentar a necessidade
de eleger Deputados e Senadores, que
sejam servidores para legislarem em prol do serviço público.
Diz Zé que
“não basta a luta sindical, quando o que vale mesmo é a lei”.
Inclusive porque fazer greve batendo ponto não é greve.
E as conclusões de greve não se transformam em lei.
Vão encarar?
Oficial de Justiça/Blogueiro *