Paulo Benz - Servidor público.
Um
dos fatos históricos mais graves da historia da humanidade ocorreu na China,
durante a chamada revolução cultural, ficando conhecido como “a grande fome”.
Uma
das iniciativas tomadas no contexto da revolução cultural foi o deslocamento
das pessoas do campo para a cidade e no sentido contrário. Visto de longe,
tanto em termos temporais quanto territoriais, a conseqüência parece óbvia. Os
níveis de produção caíram de forma alarmante, redundando na absoluta falta de
alimentos.
As
conclusões sobre o remanejamento de pessoas para funções com as quais não tem
afinidade são, do mesmo modo, óbvias.
Entretanto,
indo mais a fundo nas razões que levaram à morte milhões de pessoas por inanição,
o livro “Chineses”, da autora Laura Trevisan, parte da coleção da Ed. Contexto
sobre outros povos vistos sob a ótica de brasileiros, esclarece que um dos
grandes problemas foi que as comunas deveriam enviar relatórios ao grande
timoneiro Mao com os dados da produção local.
Por
medo de represálias do poder central, os líderes locais passaram a inflacionar
os dados remetidos, talvez acreditando que as demais comunas compensariam a
inverdade. Só que a prática era generalizada.
A soma das
produções inexistentes acabou gerando uma defasagem brutal entre os dados
fornecidos e a produção real. Em um país de proporções continentais, quando a
realidade veio à tona, a tragédia já estava encaminhada de forma irreversível.
Causa principal: medo da reação do líder!
Pois
bem. Qual a relação deste desastre histórico com a sua atuação como líder e
gestor?
Vale
à pena fazer um questionamento: você passa à sua equipe a tranqüilidade necessária
para que as más notícias lhe sejam dadas?
Um
problema escondido tende a crescer enquanto está na sua caverna. Lembre-se que
parte do papel do líder é justamente o de cuidar do setor de hortifrutigranjeiros
da instituição: pepinos, abacaxis & Cia. Quanto antes retirados do solo
fértil, menos crescem.
Uma
valiosa colaboradora da minha equipe costuma brincar comigo dizendo que sobre a
porta da minha sala deveria estar uma plaquinha com o nome “Problema”. E é
verdade. Se, na maioria dos casos, a solução de um problema tem que passar por
mim, pelo fato de ser o gestor da equipe, não posso exigir deles que fiquem com
a carga da aflição por não aceitar a realidade de que convivemos com situações
indesejadas e que, por vezes, uma orientação que dei revelou-se um grande erro.
Muitas vezes é necessário repisar os próprios passos e encontrar um novo
caminho.
É certo que,
quanto mais participação da equipe houver no desenvolvimento das soluções,
menor o risco de erros desta natureza. Mas isso é outro artigo...
Creio
que o gestor deve inspirar na sua equipe o nível de confiança necessário para
que problemas não sejam escondidos, mas sim tratados assim que descobertos,
ainda que se trate de erros operacionais ou de medidas equivocadas que partiram
do gestor. Resolver os problemas sem precisar imputar culpas, buscando
aprimorar os procedimentos, pode ser um bom caminho...