quarta-feira, 3 de outubro de 2012

MOTO CONTÍNUO: ARROCHO DA ECONOMIA, GASTOS PÚBLICOS, CORTE DE SALÁRIOS... *


O capitalismo com as suas contradições modernas e pós-modernas, que existem paralelamente, vem enfrentando uma agonia que poucos estudiosos de cenários podem arriscar alguma opinião.

Também não tenho pretensão de pensar em cenários, mas a greve dos trabalhadores da indústria automobilística é mais um momento para reflexão.

Reivindicam aqueles operários melhores salários e melhores condições de trabalho.

Vejam como o capitalismo é ingrato. Nos anos 80 a desculpa era que a indústria não reagia devido a falta de incentivos de governos ao norte e ao sul do Equador.

Imersos em crises fiscais os paises não ofereciam estrutura adequada a implantação de parques automobilísticos.

A tecnologia acelerou processos de automação, os empresários donos das montadores começaram a migrar para outros territórios, em face de arranjos econômicos nos paises em desenvolvimento.

Bem intencionados? Claro que não. A migração ocorreu em busca de mão de obra barata e diminuição de custos. As isenções concedidas na verdade funcionam como um financiamento disfarçado com o dinheiro do contribuinte, que por incrível que pareça paga mais imposto, mesmo com salários congelados, pois aumento salarial para trabalhadores é visto como aumento de custos só isso.

A balela do discurso neoliberal de criação de mais empregos é uma desconsideração à inteligência do trabalhador.

Criam-se empregos de salários baixos em condições até de trabalho escravo. Escravo sim porque começam a ser inseridas no bojo do processo produtivo as famosas terceirizações, que por sua vez utilizam imigrantes desqualificados que trabalham em troca de comida, de moradia...E trabalho mal remunerado é ótimo para quem produz a baixo custo.

A solução para isso seria de imediato uma postura de atitudes antiexploração. Ao invés de greve, o tabalhador pode pensar em largar o papel de alimentador desse sistema injusto.

Há pouco tempo, aqui no Brasil, a mídia divulgou, por exemplo, que uma empresa aérea estava cortando empregos em face do prejuizo acumulado.

Hoje tal empresa anuncia um grande investimento comprando muitas aeronaves. Onde estava o prejuizo alarmado há apenas alguns meses? Mas os trabalhadores, alimentadores também de tal sistema injusto, não tem perspectiva de aumento salarial e a contratação dos demitidos também deve estar fora de cogitação. O velho exército de reserva, previsto pelos economistas, fica valendo. Então como uma ciranda, contratam-se novos trabalhadores com menores salários e por ai continua o ciclo.

Por enquanto  corte de custos  só com trabalhadores, mas se sutilmente estiverem incluindo também cortes nos custos de manutenção das aeronaves? Quem controla isso?

Você, leitor, que talvez estivesse nascendo em 1980, não viu o estrago que Thatcher fez no Reino Unido em nome da privatização neoliberal.

E quem presenciou talvez não se lembre que Alan Budd, conselheiro de Margareth Thatcher, admitiu que "as políticas dos anos de 1980 de ataque à inflação com o arrocho da economia e gastos públicos foram um disfarce para esmagar os trabalhadores, e assim criar um exército industrial de reserva" (HARVEY, David. O Enigma do Capital, 2012, p.21, editempo editorial).

Infelizmente, o trabalhador novato, ávido por colocação no mercado, acredita na mensagem do CEO, que sempre é mais velho, de que o problema é a folha de salário dos mais velhos e experientes. Então como prostitutas, esses velhos e experientes são trocados por mais novos, que vão fazer o mesmo serviço por menos...ou seja, reinicia-se um novo ciclo, onde os novos de hoje serão os velhos e experientes de amanhã, que serão trocados...

E, pasmem, essa visão foi implantada no serviço público aqui no Brasil.

 

Sobre Trabalho e Prostituição tratarei numa próxima resenha.
 
Boanerges Cezário
Blogueiro